domingo, 21 de dezembro de 2014

Palestras reúnem agricultores, técnicos, pesquisadores e professores empenhados em fortalecer agricultura familiar

Semana de palestras reuniu grande assistência nos municípios localizados
no entorno da Barragem de Sobradinho.
Nem o calor sufocante dentro das salas de aula, algumas delas com mais de 70 pessoas, foi capaz de esfriar a interação de agricultores (as), pesquisadores, professores e técnicos durante as palestras que marcaram as atividades de comemoração do Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF) nos cinco municípios localizados às margens do lago formado pela Barragem de Sobradinho: Pilão Arcado, Remanso, Casa Nova, Sobradinho e Sento Sé.
De cidade em cidade, num roteiro itinerante que atravessou toda a semana de 10 a 14 de novembro, surpreendeu o número de inscritos às palestras programadas dentre quatro temas importantes para a agricultura e o desenvolvimento regional: produção animal e cultivos alimentares, agricultura em área irrigada e código florestal, fruteiras nativas e beneficiamento, e apicultura e meliponicultura.

Conviver – Da meta inicial de alcançar 750, a assistência registrada no final dos eventos somou mais de 1100 participantes. Parte deles era de pessoas envolvidas nos chamados Campos de Aprendizagem Tecnológica (CAT). Cerca de 420 foram implantados em suas propriedades e comunidades em consequência da execução do Projeto Lago de Sobradinho pelas instituições promotoras dos eventos - Embrapa Semiárido, Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) e prefeituras.   
Outra parte, a maioria, marcou presença pela irradiação das iniciativas de transferência de tecnologia adotadas pelos coordenadores do projeto. Desde seu início, em 2010, a organização de mais de 155 atividades de capacitação (dias de campo, cursos, treinamentos) relacionadas a algum dos seus 14 planos de ação, fez expandir o alcance das metas para maior quantidade de públicos: capacitados mais de 4.700 agricultores (as) e técnicos.
A assistência atenta e pouco dispersa é fruto de segmentos de público cada vez mais comum na região: bem informado, participativo e com variadas estratégias de trabalho nas roças. E que, além disso, já conseguiram formular estratégias cooperativas que compõem a agenda das organizações públicas e da sociedade civil em torno do que denominam Convivência com o Semiárido.
Assim que, nas salas cheias, o avanço da intensidade do calor à medida que avançava as horas da manhã se amenizava pelo interesse em debater, checar informações, comparar orientações de manejos dos pesquisadores e técnicos com as práticas na propriedade, saber mais sobre plantios forrageiros e alimentares, produzir mais com menos água e menos agrotóxicos, e outra infinidade de assuntos tão úteis na hora de enfrentar a época seca da região ou os custos de produção e ambientais.
Para Rebert Coelho Correia, pesquisador da Embrapa Semiárido e coordenador do Projeto Lago de Sobradinho, a decisão de celebrar o ano da agricultura familiar com esta sequência de eventos ao longo da semana, com um conjunto de 15 palestras por dia nos municípios das margens do lago, esteve focada na importância de destacar esse segmento agrícola na economia da região.
Padre Marcos e Irmã Stela na solenidade
de abertura da Semana Itinerante em
Sento Sé (BA)
Irmã Stela – Ao lado da programação de palestras, os organizadores dos eventos fizeram a distribuição de pequenas quantidades de sementes, mudas e estacas de plantas alimentares e forrageiras. Eram materiais de feijões, milhos, sorgos, mandiocas, maniçobas, umbuzeiros, leucena e gliricídia, que já haviam sido submetidos a testes e avaliações produtivas nas condições dos CATS da região.
“No projeto, nos desafiamos a, junto com agricultores (as) e técnicos, a atuar nas diversas situações agrícolas e ambientais da região. Uma estratégia adotada e que intensificamos durante esta semana foi a entrega desses materiais num volume suficiente para serem multiplicados nas propriedades e implantar uma boa estrutura produtiva”, explica Rebert.
Para ele, os 14 planos de ação buscam criar condições permanentes para garantir segurança alimentar às famílias, gerar renda e emprego.
“Adotamos iniciativas que miram o curto e médio prazos, principalmente com o objetivo de reverter os impactos dos últimos três anos de seca sobre os sistemas produtivos. Nossa visão de longo prazo, contudo, promover o aumento sustentado da produtividade agrícola, reverter impactos que degradam o ambiente e estimular a articulação das cadeias produtivas de mel, peixe e leite como alternativa de ampliação da renda nos municípios”.
Neste horizonte, está também a parceria firmada com o Colégio Estadual Sete de Setembro, de Sento Sé. O centro de pesquisa da Embrapa já recebeu mais de 50 alunos dos cursos Técnico em Agropecuária e Agronegócio para treinamentos em nível de estágio em seus laboratórios e campos experimentais. A escola ainda recebeu do projeto equipamentos para montagem de uma estrutura de processamento de alimentos que tem sido usada na formação dos estudantes e em treinamento de agricultores (as), minibiblioteca e instalou um viveiro para produção de mudas.
Consequência dessa aproximação entre a pesquisa, a transferência de tecnologias e o ensino, o Colégio foi sede, ao final da Semana Itinerante, de solenidade para doação de área com 2 hectares onde vai ser instalado um CAT para ensino de agricultura irrigada. Denominado “Área de Atividades Práticas Irmã Stela”, presta uma homenagem à freira que nos anos 80, ao lado do padre Marcos Tillia e de variados segmentos da sociedade local, fizeram gestões e conseguiram que o Governo do Estado da Bahia instalasse o colégio no município. 

João Paulo reafirma compromisso permanente da CHESF com
a população dos municípios no entorno do lago formado pela
Barragem de Sobradinho. 
A doação foi feita por um grupo de funcionários da CHESF, alguns já aposentados como o engenheiro João Paulo Aguiar que marcou presença na região como gestor da empresa de energia à época da construção da Barragem de Sobradinho. Para ele, a iniciativa é mais uma demonstração do compromisso permanente que a empresa estabeleceu com o povo dos municípios que tiveram de ser reconstruídos em consequência formação do lago de Sobradinho.
Na solenidade em Sento Sé ele declarou que o projeto, a Semana Itinerante e a doação da área “onde os jovens alunos serão treinados em técnicas agropecuárias e crescerão em cidadania” são demonstrações “claras que ações republicanas mantêm viva a esperança de um Brasil mais justo, humano e igualitário”.
Território – O Projeto Lago de Sobradinho tem na sua equipe professores e técnicos de várias instituições. Vários deles integraram a comitiva que andou de município em município ministrando palestras. As professoras Eva Monica Sarmento e Sandra Mari Yamamoto, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), elogiaram o “contato direto com os agricultores (as) e a oportunidade de trocar informações e técnicas de pesquisas, que muitas vezes não chegam até esses produtores”.
José Fernandes Neto, engenheiro agrônomo da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), considerou a realização da Semana Itinerante um “momento para reciclar, renovar, apreender e integrar conhecimentos. Um estímulo tanto para os agricultores familiares quanto para nós que fazemos parte dessa equipe”.
Manifestação semelhante partiu de técnicos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA) e Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), Manoel Rodrigues da Mota e Tomio Honda, respectivamente. Manoel elogiou o projeto como de grande importância e que “possui perfeita sintonia com os objetivos da criação e gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) do Lago de Sobradinho”. Tomio, por sua vez, aponta a satisfação de colaborar com o evento por meio do setor de Educação Sanitária que busca ampliar a conscientização de agentes públicos e agricultores a respeito do uso de agrotóxicos.
Presente ao início das atividades da Semana Itinerante nos municípios de Casa Nova e Sobradinho, o pesquisador e Chefe Geral da Embrapa Semiárido, Pedro Carlos Gama da Silva, aponta o Projeto Lago de Sobradinho como “o mais robusto projeto de transferência de tecnologia” da instituição e que “reforça muito uma abordagem que temos defendido e incentivado: a de desenvolvimento territorial”.
De acordo com Pedro, a área representada pelos cinco municípios é um “território de extrema importância pelas potencialidades econômicas, pela população e importância que possui na produção agrícola regional” e com forte inserção no mercado interno.

Ele ainda destaca as parcerias que estão se consolidando no projeto, com as prefeituras, órgãos estaduais como a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), a Universidade Federal do Vale do Rio São Francisco (UNIVASF), Codevasf, IBAMA, Bahia Pesca, EBDA e a sociedade civil por meio do Fórum Regional Sustentável dos Municípios da Borda do Lago de Sobradinho. “Este envolvimento institucional cooperativo cria condições para o desenvolvimento desse território”.

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