Agricultor e pesquisadores, e os frutos da tecnologia no campo |
Aumentar a área de
cultivo. Eis aí uma decisão que parece combinada entre os agricultores que
aceitaram avaliar, em suas propriedades, nos municípios da borda do lago
formado pela Barragem de Sobradinho, algumas tecnologias de irrigação e de
manejo de melão, melancia e cebola, pesquisadas na Embrapa Semiárido. Uma das
razões para escolha tão semelhante está nos resultados das colheitas: quase o
dobro de frutos que costumavam obter com as práticas convencionais de plantio.
A decisão tem sido
tomada até por quem experimentou, pela primeira vez, o cultivo irrigado, sob a
orientação dos pesquisadores da Embrapa. Comerciante e pecuarista no município
de Pilão Arcado – BA, Gildécio Borges Lopes não esperou nem terminar a colheita
de melancia, em 2,5 ha de sua propriedade, para anunciar a ampliação em mais
2,5 ha a área irrigada das suas terras para, quando janeiro chegar, plantar
cebola.
Durante um evento de
transferência de tecnologia, organizado na sua propriedade, por
profissionais da Embrapa Semiárido, da Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco (CHESF) e da prefeitura, o comerciante brincava, entre as mais de 100 pessoas
presentes,
atribuindo para si o título de maior produtor de melancia de Pilão Arcado. Mais
do que isso, ele era o primeiro agricultor, em cerca de 50 km de margem de rio, que se
estende nos limites geográficos do município, a empregar tecnologia de
irrigação num cultivo.
Gildécio: "maior produtor de melancia" |
Passeando na área de
plantio, dentre as muitas melancias próximas ao ponto de colheita, Gildécio não
tinha dúvida: “me dei bem”. Apoiado por estimativa dos pesquisadores da Embrapa,
fazia sua própria previsão de colher em torno de 50 t de frutos. A venda, já
tinha acertado com o comércio local, com o de Remanso e de Morro Cabeça no
Tempo, município do Piauí. Principiante na agricultura irrigada, os resultados
do plantio experimental, orientado pelos pesquisadores, deram uma certeza a ele: “o
negócio é bom”.
É uma opinião parecida
com a que tem agricultores bem mais experientes. Seu Edvaldo Barbosa da Silva, com
propriedade em Novo São Gonsalo, na zona rural de Sobradinho, tem mais de 20 anos
que planta cebola e melão. Há pouco mais de 3, depois de contínuos insucessos
com as culturas, esteve a ponto de largar o trabalho na roça e procurar outro
meio de vida.
A participação no
trabalho proposto pela Embrapa e a CHESF, no projeto “Ações de
desenvolvimento para produtores agropecuários e pescadores do território do
entorno da Barragem de Sobradinho-BA”, fez com que retomasse o ânimo para o
plantio. Em 1 hectare, passou a experimentar o plantio de melão com o
recurso de irrigação por gotejamento, agregado a equipamento que permite a aplicação
de fertilizantes e adubos misturados à água de irrigação e a adoção de manejos
voltados para melhorar o espaçamento entre plantas e racionalizar a aplicação
de defensivos.
Na primeira colheita,
em meses mais quentes do segundo semestre, viu saltar a quantidade de frutos de
18 mil t/ha para cerca de 40 mil t/ha. Numa segunda, agora nos meses mais
frios, a retirada saltou de 15 t/ha para quase 30 t/ha. Com resultados assim,
seu Edvaldo,
que começou com a área de teste de 1 ha, já expandiu o sistema de irrigação por
gotejamento para mais 2,5 ha e, até o final do ano, junto com o filho, quer chegar
a 10 ha. Nos seus planos não está mais abandonar a agricultura.
Damião e esposa |
No Sítio Chapadinha,
também em Sobradinho, Damião Edmilson Gomes vai pelo mesmo caminho. Plantador
de cebola, comemorava quando conseguia colher na sua propriedade 500 sacos da cultura
por hectare. No primeiro ano de trabalho, junto com a Embrapa e a CHESF, ele
viu sair da sua pequena terra 1.500 sacos. A boa safra ficou um pouco frustrada
por causa do preço do mercado. No entanto, foi o bastante para, num segundo
plantio, já com recursos próprios, cultivar melão. Depois, repetir no terceiro cultivo e, no
quarto, mudar para tomate e pimentão.
Segundo ele, até
então, nunca tinha “aliviado nada, era só ‘pêa’”. “Esse negócio do gotejamento
é bom demais, não é neguinha?”, diz ao lado da esposa com quem divide os
trabalhos na roça.
Damião, seu Edvaldo e
Gildécio conseguem esses bons resultados reduzindo despesas com água e insumos.
Seu Edvaldo, por exemplo, diz que reduziu em quase 50% a quantidade de água
usada no plantio do melão. Da mesma forma, viu cair a despesa com insumos, ao
passar a usa apenas 9 sacos de fertilizantes, ao invés dos 20/22 sacos que
costumava usar.
Rodolfo e a produção que a CHESF apoiou |
Sucesso – Gestor do Convênio firmado com
a Embrapa, Rodolfo de Sá
Cavalcanti, da CHESF, considera que o sucesso das ações de transferência de
tecnologias para as culturas irrigadas não cabe apenas ao empenho da equipe da
Embrapa Semiárido. “É preciso destacar a força de vontade de aprender dos
produtores. A qualidade e a produção do que se colhe nos campos experimentais
gera orgulho no seu melhor sentido, não só do produtor, mas todos nós que
fazemos o Convênio acontecer”, afirma.
O Assessor de Gestão de Projetos Sociais para as
Comunidades, da CHESF, Ivaldo de
Oliveira e Silva, explica que esses trabalhos realizados em áreas experimentais
mostram aos pequenos agricultores que
existem técnicas mais modernas e fáceis
de operar, podendo promover o aumento da produção. Mais que isso, a operação
eficiente da irrigação por gotejamento fará os agricultores colher safra maior
e com menor custo. “Vão melhorar o fruto do trabalho”, diz.
O pesquisador Rebert
Coelho Correia, da Embrapa Semiárido, diz que, a produção maior de frutos é um
resultado significativo obtido pelos agricultores apoiados nesse projeto.
Contudo, ele destaca o fato dessa colheita maior ser alcançada com uso menor de
água e de agrotóxicos. Este é um dado importante para reduzir os impactos
ambientais da atividade agropecuária sobre os recursos naturais.
Mais informações:
Rebert Coelho Correia –
pesquisador;
Fernanda
Birolo - Jornalista Embrapa Semiárido (MTb/AC 81)
Marcelino
Ribeiro - Jornalista Embrapa Semiárido (MTb/BA 1127)
(87) 3866-3734
Gilberto Pires
– Nucleo de Comunicação Organizacional (NCO)
(87) 3861 4442
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