quarta-feira, 4 de abril de 2018

Pesquisa avalia impactos socioeconômicos da implantação de tecnologias de baixo custo em unidade familiar


Na comunidade de São Bento, zona rural do município baiano de Remanso, já são mais de 5 anos que as chuvas ocorrem abaixo da média e antecipam a seca das plantas que, sem folhas, reduzem a muito pouco a capacidade de suporte forrageiro da Caatinga na alimentação dos rebanhos. Em muitas propriedades, as baixas ou até mesmo perdas totais das produções nesse período fizeram crescer a renda derivada de atividades não agrícolas, como é o caso das aposentadorias, no sustento dos agricultores e de suas famílias. Não foi o que aconteceu, no entanto, no Sítio Jirau.

Desde 2010, os proprietários do sítio – o casal Ranulfo Lopes de Almeida e Maria das Graças Gomes de Almeida – fazem parte de um  projeto de transferência de tecnologia realizado pela Embrapa Semiárido em parceria com a Chesf que abrange tanto a agricultura de sequeiro como a irrigada. O trabalho foi desenvolvido por meio de Campos de Aprendizagem Tecnológica (CATs), uma espécie de espaço pedagógico para experimentações técnicas individuais e comunitárias. Durante o projeto, foram implantadas culturas como palma Orelha de Elefante, leucena, sorgo e gliricídia, além de atividades como a pasteurização de leite para o processo de fabricação de queijo de leite de cabra.

Um estudo realizado pelo pesquisador José Lincoln Araújo, da Embrapa Semiárido, revelou que as tecnologias introduzidas na propriedade ao longo do projeto produziram impactos sociais e econômicos significativos, proporcionando um aumento expressivo da renda agrícola na unidade produtiva estudada e, consequentemente, melhorando a qualidade de vida da família.

De acordo com o estudo, o número de animais dos rebanhos caprino e ovino existentes no período de instalação do CAT  triplicou após 6 anos de execução do projeto, passando de cerca de 100 cabeças para aproximadamente 300. Os animais comercializados antes da intervenção na propriedade eram bem jovens (3 a 4 meses) e pesavam em torno de 5kg – isso porque, no período de seca, não havia comida disponível para a alimentação de todo o rebanho. Atualmente, são vendidos cerca de 70 animais por ano, geralmente machos, com peso médio de 12kg, ao preço de R$ 120,00 cada animal, gerando uma renda anual de R$ 8.400,00 para os produtores.

Outro impacto econômico bastante significativo para a melhoria da renda na propriedade estudada foi a ampliação da produção do queijo de cabra, que passou de quatro para dez unidades diárias (600g), no período de maior lactação do plantel, e da produção de um para quatro unidades, no período de menor lactação. A atividade gera uma renda aproximada de R$ 3.000,00 mensais nos períodos com maior lactação e R$ 1.200,00 no período de menor lactação.

Ainda segundo o estudo, o comparativo do total da renda agrícola obtida antes e depois da introdução do CAT apresenta a ocorrência de um incremento superior a 200%. Antes da intervenção tecnológica, a renda não agrícola, que corresponde às aposentadorias rurais do casal de produtores, representava mais de dois terços da renda total da família, enquanto atualmente a renda agrícola supera a não agrícola.

Houve, ainda, melhoria no nível do bem-estar físico e social: a substituição da energia, antes proveniente de placa solar emprestada, por energia elétrica; a melhoria no padrão alimentar; e o aumento de bens de consumo, com a renovação de diversos eletrodomésticos, entre eles geladeira, máquina de lavar roupa, televisão etc. – todos sinais marcantes da recente melhora da qualidade de vida da família.


* Texto originalmente publicado na edição especial número 47 do Jornal do Semiárido, de janeiro de 2018 (ver aqui).