Semana de palestras reuniu grande assistência nos municípios localizados no entorno da Barragem de Sobradinho. |
Nem
o calor sufocante dentro das salas de aula, algumas delas com mais de 70
pessoas, foi capaz de esfriar a interação de agricultores (as), pesquisadores,
professores e técnicos durante as palestras que marcaram as atividades de
comemoração do Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF) nos cinco
municípios localizados às margens do lago formado pela Barragem de Sobradinho:
Pilão Arcado, Remanso, Casa Nova, Sobradinho e Sento Sé.
De
cidade em cidade, num roteiro itinerante que atravessou toda a semana de 10 a
14 de novembro, surpreendeu o número de inscritos às palestras programadas
dentre quatro temas importantes para a agricultura e o desenvolvimento
regional: produção animal e cultivos alimentares, agricultura em área irrigada
e código florestal, fruteiras nativas e beneficiamento, e apicultura e
meliponicultura.
Conviver –
Da meta inicial de alcançar 750, a assistência registrada no final dos eventos
somou mais de 1100 participantes. Parte deles era de pessoas envolvidas nos
chamados Campos de Aprendizagem Tecnológica (CAT). Cerca de 420 foram
implantados em suas propriedades e comunidades em consequência da execução do
Projeto Lago de Sobradinho pelas instituições promotoras dos eventos - Embrapa
Semiárido, Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) e
prefeituras.
Outra
parte, a maioria, marcou presença pela irradiação das iniciativas de
transferência de tecnologia adotadas pelos coordenadores do projeto. Desde seu
início, em 2010, a organização de mais de 155 atividades de capacitação (dias
de campo, cursos, treinamentos) relacionadas a algum dos seus 14 planos de
ação, fez expandir o alcance das metas para maior quantidade de públicos: capacitados
mais de 4.700 agricultores (as) e técnicos.
A
assistência atenta e pouco dispersa é fruto de segmentos de público cada vez
mais comum na região: bem informado, participativo e com variadas estratégias
de trabalho nas roças. E que, além disso, já conseguiram formular estratégias
cooperativas que compõem a agenda das organizações públicas e da sociedade
civil em torno do que denominam Convivência com o Semiárido.
Assim
que, nas salas cheias, o avanço da intensidade do calor à medida que avançava
as horas da manhã se amenizava pelo interesse em debater, checar informações,
comparar orientações de manejos dos pesquisadores e técnicos com as práticas na
propriedade, saber mais sobre plantios forrageiros e alimentares, produzir mais
com menos água e menos agrotóxicos, e outra infinidade de assuntos tão úteis na
hora de enfrentar a época seca da região ou os custos de produção e ambientais.
Para
Rebert Coelho Correia, pesquisador da Embrapa Semiárido e coordenador do
Projeto Lago de Sobradinho, a decisão de celebrar o ano da agricultura familiar
com esta sequência de eventos ao longo da semana, com um conjunto de 15
palestras por dia nos municípios das margens do lago, esteve focada na
importância de destacar esse segmento agrícola na economia da região.
Padre Marcos e Irmã Stela na solenidade de abertura da Semana Itinerante em Sento Sé (BA) |
Irmã
Stela – Ao lado da programação de palestras, os
organizadores dos eventos fizeram a distribuição de pequenas quantidades de
sementes, mudas e estacas de plantas alimentares e forrageiras. Eram materiais
de feijões, milhos, sorgos, mandiocas, maniçobas, umbuzeiros, leucena e
gliricídia, que já haviam sido submetidos a testes e avaliações produtivas nas
condições dos CATS da região.
“No
projeto, nos desafiamos a, junto com agricultores (as) e técnicos, a atuar nas
diversas situações agrícolas e ambientais da região. Uma estratégia adotada e
que intensificamos durante esta semana foi a entrega desses materiais num
volume suficiente para serem multiplicados nas propriedades e implantar uma boa
estrutura produtiva”, explica Rebert.
Para
ele, os 14 planos de ação buscam criar condições permanentes para garantir
segurança alimentar às famílias, gerar renda e emprego.
“Adotamos
iniciativas que miram o curto e médio prazos, principalmente com o objetivo de
reverter os impactos dos últimos três anos de seca sobre os sistemas
produtivos. Nossa visão de longo prazo, contudo, promover o aumento sustentado
da produtividade agrícola, reverter impactos que degradam o ambiente e
estimular a articulação das cadeias produtivas de mel, peixe e leite como
alternativa de ampliação da renda nos municípios”.
Neste
horizonte, está também a parceria firmada com o Colégio Estadual Sete de
Setembro, de Sento Sé. O centro de pesquisa da Embrapa já recebeu mais de 50 alunos
dos cursos Técnico em Agropecuária e Agronegócio para treinamentos em nível de
estágio em seus laboratórios e campos experimentais. A escola ainda recebeu do
projeto equipamentos para montagem de uma estrutura de processamento de
alimentos que tem sido usada na formação dos estudantes e em treinamento de
agricultores (as), minibiblioteca e instalou um viveiro para produção de mudas.
Consequência
dessa aproximação entre a pesquisa, a transferência de tecnologias e o ensino,
o Colégio foi sede, ao final da Semana Itinerante, de solenidade para doação de
área com 2 hectares onde vai ser instalado um CAT para ensino de agricultura
irrigada. Denominado “Área de Atividades Práticas Irmã Stela”, presta uma
homenagem à freira que nos anos 80, ao lado do padre Marcos Tillia e de
variados segmentos da sociedade local, fizeram gestões e conseguiram que o
Governo do Estado da Bahia instalasse o colégio no município.
João Paulo reafirma compromisso permanente da CHESF com a população dos municípios no entorno do lago formado pela Barragem de Sobradinho. |
A
doação foi feita por um grupo de funcionários da CHESF, alguns já aposentados
como o engenheiro João Paulo Aguiar que marcou presença na região como gestor
da empresa de energia à época da construção da Barragem de Sobradinho. Para
ele, a iniciativa
é mais uma demonstração do compromisso permanente que a empresa estabeleceu com
o povo dos municípios que tiveram de ser reconstruídos em consequência formação
do lago de Sobradinho.
Na
solenidade em Sento Sé ele declarou que o projeto, a Semana Itinerante e a
doação da área “onde os jovens alunos serão treinados em técnicas
agropecuárias e crescerão em cidadania” são demonstrações “claras que ações
republicanas mantêm viva a esperança de um Brasil mais justo, humano e
igualitário”.
Território
– O Projeto Lago de Sobradinho tem na sua equipe professores e técnicos de
várias instituições. Vários deles integraram a comitiva que andou de município
em município ministrando palestras. As professoras Eva Monica Sarmento e Sandra
Mari Yamamoto, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF),
elogiaram o “contato direto com os agricultores (as) e a oportunidade de trocar
informações e técnicas de pesquisas, que muitas vezes não chegam até esses
produtores”.
José Fernandes Neto, engenheiro agrônomo da Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola (EBDA), considerou a realização da Semana Itinerante
um “momento para reciclar, renovar, apreender e integrar conhecimentos. Um
estímulo tanto para os agricultores familiares quanto para nós que fazemos
parte dessa equipe”.
Manifestação
semelhante partiu de técnicos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA) e Agência
Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), Manoel Rodrigues da
Mota e Tomio Honda, respectivamente. Manoel elogiou o projeto como de grande importância e que “possui perfeita
sintonia com os objetivos da criação e gestão da Área de Proteção Ambiental
(APA) do Lago de Sobradinho”. Tomio, por sua vez, aponta a satisfação de
colaborar com o evento por meio do setor de Educação
Sanitária que busca ampliar a conscientização de agentes públicos e
agricultores a respeito do uso de agrotóxicos.
Presente
ao início das atividades da Semana Itinerante nos municípios de Casa Nova e
Sobradinho, o pesquisador e Chefe Geral da Embrapa Semiárido, Pedro Carlos Gama
da Silva, aponta o Projeto Lago de Sobradinho como “o mais robusto projeto de
transferência de tecnologia” da instituição e que “reforça muito uma abordagem
que temos defendido e incentivado: a de desenvolvimento territorial”.
De
acordo com Pedro, a área representada pelos cinco municípios é um “território
de extrema importância pelas potencialidades econômicas, pela população e
importância que possui na produção agrícola regional” e com forte inserção no
mercado interno.
Ele
ainda destaca as parcerias que estão se consolidando no projeto, com as
prefeituras, órgãos estaduais como a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da
Bahia (ADAB) e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), a
Universidade Federal do Vale do Rio São Francisco (UNIVASF), Codevasf, IBAMA,
Bahia Pesca, EBDA e a sociedade civil por meio do Fórum Regional Sustentável dos
Municípios da Borda do Lago de Sobradinho. “Este envolvimento institucional
cooperativo cria condições para o desenvolvimento desse território”.
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