quarta-feira, 7 de março de 2018

Parceria pelo desenvolvimento rural no Vale do São Francisco







Nas suas perspectivas institucionais, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), com seu Programa de Responsabilidade Social, e a Embrapa Semiárido, com sua agenda de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), estabeleceram uma dinâmica de cooperação técnica que tem materializado métodos, meios e instrumentos de apropriação de conhecimentos e de tecnologias pelos agricultores e suas organizações. Os resultados são significativos.

Nos municípios baianos do entorno do lago formado pela Barragem de Sobradinho - Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho - as equipes técnicas das duas empresas desdobraram-se na execução de um amplo programa de capacitação e de experimentações agrícolas em meio real, que tem incrementado nas propriedades uma infraestrutura produtiva, impactando na geração de renda dos agricultores e no desenvolvimento das comunidades rurais.

Na estratégia de intervenção do projeto estabeleceu-se, em 2010, metas de beneficiar direta e indiretamente cerca de 594 e 9.000 agricultores familiares, respectivamente. Em outubro de 2017 esses números já eram bem maiores: 744 e mais de 13 mil.

Alcançou-se um público dessa dimensão em um processo de articulação com organizações da sociedade civil (associações, cooperativas, sindicatos, colônias de pescadores etc.) e instituições públicas de ensino, de assistência técnica e extensão rural, e de regulação ambiental. Além disso, firmou-se importante interlocução com as prefeituras municipais e suas secretarias de agricultura, meio ambiente e desenvolvimento rural.

Mais que isso, no entanto, o projeto se ancorava na pluriatividade agrícola que havia sido constatada nas visitas aos municípios ainda na etapa da sua elaboração. Assim, incorporou objetivos e metas não apenas em questões tecnológicas e na sua transferência para os sistemas de produção. Chesf e Embrapa foram ao campo como espaço de vida, onde agricultores, vaqueiros e pescadores convivem junto aos recursos naturais e à produção pecuária e agrícola, integrando-se na perspectiva da sustentabilidade.

Da mesma forma, incorporaram conceitos de que o Bioma Caatinga é também território e espaço de desenvolvimento, que guarda e conserva potencialidades sociais, econômicas e ambientais inerentes aos indivíduos, às famílias, comunidades e  municípios.

Selou essa cooperação a determinação de atuarem para superar os impactos causados a milhares de ribeirinhos com a construção da Barragem de Sobradinho. À época, a população afetada se defrontou com a abrupta transformação dos seus hábitos e história.

O foco no desenvolvimento acelerado não percebeu o vazio cultural e tecnológico que as populações deslocadas das margens do rio e das áreas de influência da barragem tinham, para que pudessem se apropriar das novas oportunidades que se apresentavam. Estas populações possuíam valores e sistemas de produção e de vida pouco compatíveis com aquelas que chegavam atraídas pelas obras da barragem e situações advindas da nova dinâmica.

Na avaliação do administrador Rodolfo de Sá Cavalcanti, gestor da Chesf do Termo de Cooperação com a Embrapa Semiárido, “os resultados obtidos, apesar dos devastadores efeitos da seca no Semiárido baiano, durante o período do projeto, são surpreendentes e auspiciosos, recuperam e/ou restituem perdas do público-alvo do projeto, levando esperança e júbilo aos beneficiados, e incentivo para a ampliação de ações e iniciativas por parte das empresas”.

De fato, os resultados obtidos neste projeto ensejaram a Chesf e a Embrapa Semiárido a estenderem a cooperação técnica e elaborarem novas propostas, com a finalidade de promover sistemas de produção agropecuários mais harmonizados com o bioma  e que se traduzam no incremento da produtividade, na redução dos custos de produção e na melhoria da qualidade de vida dos agricultores e de suas famílias. Deste modo, se aproxima do desenvolvimento sustentável de comunidades rurais submetidas a sérios problemas sociais e econômicos.


* Texto originalmente publicado na edição especial número 47 do Jornal do Semiárido, de janeiro de 2018 (ver aqui).