Pesquisador mostra alternativas forrageiras |
A solução para este fenômeno, que põe para baixo a produtividade dos sistemas de criação e empobrece o agricultor, é uma das principais metas do projeto que reúne a Embrapa Semiárido, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco – Chesf, prefeituras e outras organizações que atuam em cinco municípios no entorno do lago formado pela barragem de Sobradinho: Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho.
Aprendizagem – Uma estratégia em uso é a implantação de áreas para demonstração de tecnologias distribuídas por várias comunidades dos cinco municípios. Até o momento foram instaladas 43 dessas áreas, chamadas de Campos de Aprendizagem Tecnológica (CATs), com pastagens cultivadas, bancos de proteína de leucena e gliricídia e melancia forrageira.
Nestes espaços físicos, os pesquisadores e técnicos das instituições envolvidas no projeto realizam eventos que reúnem agricultores e servem como pontos de irradiação de inovações técnicas para outras propriedades. Ao todo, em pouco mais de um ano de execução do projeto, cerca de 540 criadores estiveram presentes a atividades como dias de campo e cursos.
Tem grande impacto entre os agricultores os treinamentos em técnicas de armazenamento e conservação de forragem, em especial as demonstrações que ensinam a preparar silos com as espécies cultivadas nos CATs. Nos eventos organizados nos cinco municípios foram produzidos cerca de 50 toneladas de silagem.
Um agricultor que cultive na sua propriedade forrageiras adaptadas às condições climáticas da região e recorra a técnicas de conservação dessa forragem para uso apenas na época seca, vai reduzir a pressão dos animais sobre a caatinga e evitar que seus rebanhos percam peso, explica o pesquisador da Embrapa Semiárido, Rebert Coelho Correia, coordenador do projeto.
“Com este manejo, se consegue ter animais com melhor condição corporal para serem levados ao mercado num período de escassez e que são comercializados por melhores preços”.
Não perder – Segundo ele, a realização de dias de campo nas áreas dos CATs é uma estratégia fundamental por causa da sua dinâmica de promover o debate entre agricultores, pesquisadores e técnicos.
Num evento dessa natureza na comunidade de Entroncamento, município de Casa Nova, o zootecnista da Embrapa Semiárido, Tadeu Vinhas Voltolini, em conversa com os agricultores, pôs em evidência a importância de guardar a forragem para fornecer aos animais quando a vegetação nativa fica seca e quase sem nutrientes.
Segundo Tadeu, a perda de peso dos animais nos meses sem chuva representa um prejuízo financeiro considerável nas propriedades. De acordo com ele, um agricultor que tem na faixa de 100 animais e cada um deles diminui em média cerca de 5 kg de peso corporal nos meses sem chuva, deixa de ganhar um bom dinheiro. O pesquisador faz uma conta rápida:
“A multiplicação dos 5 kg de peso perdido na seca pelo valor estimado do kg da carne (R$ 9,00) é R$ 45,00. Como o rendimento de carcaça do animal é de aproximadamente 50%, o valor de perda estimada em reais é 22,50. Com 100 animais perdendo nesse patamar o produtor terá um prejuízo de 2.250 reais. “Em geral, nessa conta o produtor perde cerca de 280 reais por mês, o equivalente a meio salário mínimo”.
Para Tadeu, o prejuízo pode ser maior já que não estão sendo considerados os prejuízos em reprodução e produção de leite das fêmeas e na morte de animais, explica.
Estruturante – O cultivo e a conservação de forragens é uma garantia de que os animais ficarão longe do “efeito sanfona”. Por isso, ao final de cada evento de transferência de tecnologia, os pesquisadores e técnicos levantam demandas de sementes e mudas pelos agricultores para serem produzidas ou adquiridas pela Embrapa Semiárido e a Chesf para distribuir aos agricultores no próximo período chuvoso. Junto com isso, também são distribuídas publicações acerca das técnicas e das espécies forrageiras cultivadas nos CATs.
Por outro lado, Rebert explica que estão sendo adquiridas dez (10) ensiladeiras com recursos do projeto para serem utilizadas nos cinco municípios e ampliar a capacidade de armazenamento de forragem nas comunidades.
O Assessor de Gestão de Projetos Sociais para as Comunidades, Ivaldo de Oliveira, da Chesf, destaca o caráter estruturante das ações realizadas junto com a Embrapa ao enfrentar problemas que têm perdurado nos sistemas agropecuários de base familiar: a baixa eficiência de produção responsável por uma predominante economia de subsistência e por uma contínua e crescente degradação dos seus recursos naturais.
Para ele, é importante que o agricultor potencialize sua capacidade produtiva sem esquecer de que se a roça dispõe de alimentos para apenas 50 animais não adianta criar 100. Não tem futuro. É necessário ter muitas forrageiras plantadas porque uma ajuda a outra na balanceamento da ração, além de ser melhor para prevenir perdas: uma pode não produzir e outra pode dar boa colheita com as chuvas irregulares da região, assegura.