A
cooperação entre a Embrapa Semiárido e a Companhia Hidro Elétrica
do São Francisco (Chesf), por meio do Projeto Lago de Sobradinho,
está assentada em metodologias participativas e em situações que
aproximam o conhecimento científico-tecnológico das experimentações
postas em prática por organizações da sociedade civil e
agricultores. Essas ações diretamente no meio real, no entanto,
remontam a um histórico de experiências e a um conjunto de estudos,
por parte da Embrapa, que tiveram início ainda na década de 1970.
O
pesquisador e coordenador do Projeto Lago de Sobradinho, Rebert
Coelho Correia, relata que, até chegar a este modelo de intervenção,
pesquisadores e técnicos da Embrapa Semiárido percorreram um longo
itinerário de abordagens que, num primeiro instante, integrava uma
orientação interdisciplinar e focada na propriedade agrícola sob
determinada situação agroecológica, com o objetivo de confrontar
práticas de produção com as ofertas de tecnologias da pesquisa.
Os
resultados registrados em um projeto anterior com essa orientação,
executado em Ouricuri-PE, foi que a “adoção de inovações
necessitava de um ambiente favorável que poderia ser potencializado
em ações incrementadas nas comunidades rurais”, afirma Rebert. E
foi o que se buscou em outro ambiente físico, no distrito de
Massaroca, Município de Juazeiro-BA, com a “adoção de métodos
de planejamento e intervenção para o desenvolvimento rural,
planejado e controlado pelos agricultores, em nível de comunidades
rurais”.
O
passo seguinte se deu com o projeto de “Desenvolvimento Comunitário
da Região do Rio Gavião”, implementado de 1999 a 2016, em uma
área de, aproximadamente, 14.000 km², compreendendo 13 municípios
das regiões Sudoeste e Serra Geral do Estado da Bahia, que, à época
contavam com, aproximadamente, 40.000 famílias quase totalmente em
situação abaixo da linha de pobreza. Em parceria com o Fundo
Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e do Governo do
Estado da Bahia, por intermédio da Companhia de Desenvolvimento e
Ação Regional (CAR), órgão da Secretaria de Desenvolvimento
Rural, o desafio enfrentado foi o de demonstrar a viabilidade técnica
dos conhecimentos gerados pela pesquisa e o potencial das atividades
agropecuárias do Semiárido brasileiro.
Com a
Chesf, no Projeto Lago de Sobradinho, as ações estão voltadas para
as unidades produtivas de agricultores familiares e de pescadores dos
municípios do entorno do Lago de Sobradinho, prioritariamente, por
meio de suas organizações. Um instrumento metodológico adotado
para compor esse conjunto de atores são os chamados Campos de
Aprendizagem Tecnológica (CATs), em geral, com dimensão de 1
hectare.
Na
estratégia operacional do projeto, os CATs são uma espécie de
espaço pedagógico para experimentações técnicas individuais e
comunitárias, e programação de atividades de formação e de
capacitação. A localização e instalação obedece a uma dinâmica
que remontou inicialmente à indicação de agricultores de perfil
agregador, inovador, por vezes líder informal ou não, que agissem
para favorecer um diálogo sócio-técnico entre as equipes do
projeto e os segmentos agrícolas nas comunidades.
Segundo
Rebert Correia, “resultados impressionantes” advieram dos 14
Planos de Ação que integram o Projeto Lago de Sobradinho. Em um
deles, o de Olericultura, houve registro de incremento da
produtividade acima de 80%, além da economia de 50% de água, 80% de
fertilizantes e 30% de mão de obra. Em outro, relacionado à
Apicultura, que teve ativa participação de professores e técnicos
da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e da
Bahiater em cursos de capacitação, a apropriação de inovações
tecnológicas que fizeram as produtividades saltarem de
aproximadamente 13 kg/colmeia/ano para cerca de 40 kg/colmeia/ano.
A
favor destes resultados atuou sólida parceria institucional
construída pela Embrapa e Chesf junto a entidades não
governamentais, representantes dos movimentos sociais da região,
Fórum de Integração, colônias de pescadores, cooperativas e
associações de agricultores familiares e sindicato dos
trabalhadores rurais. “A articulação ampliada junto a outros
atores atuantes nos municípios será a base para a execução dos
novos projetos e que devem incrementar a melhoria da segurança
alimentar e a renda dos agricultores”, conclui o pesquisador da
Embrapa.
* Texto originalmente publicado na edição especial número 47 do Jornal do Semiárido, de janeiro de 2018 (ver aqui).
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